terça-feira, 27 de outubro de 2009

Esperai por mim

Liberdade,
esperai por mim!
Liberdade,
venha cá,
para as proximidades do meu ser.
Encontrar-me-ei contigo.
Mas está difícil encontrar um caminho.
Há desventuras que atrapalham,
pedras que me fazem tropeçar.
De tanto cair e levantar,
demoro mais a chegar perto de ti.
Mas ainda chegarei,
esperai por mim!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Tela Branca

Eu queria ver um filme. De circuito alternativo. Daqueles que quase ninguém quer ver. O que eu fiz? Mandei a vontade dos outros se danar! Não preciso de companhia para ir ao cinema, ora essa! Preciso apenas de um tostão, documento que comprove que tenho direito a meia entrada. Só!
E assim eu fui ao cinema. Sozinho. O filme? Desinteressante para a maioria das pessoas é o suficiente. Estava bem simples. Calça jeans, all star vermelho, camisa branca e a mochila verde-musgo habitual.
Cheguei cedo. Sentei-me confortavelmente na poltrona, com as pernas esticadas, pouco ou nada preocupado com as boas maneiras.
Comecei então a olhar ao meu redor. Tentava me distrair com as pessoas que iam chegando, enquanto o filme não começava. Contudo, quem foi que disse que eu conseguia? O máximo que consegui descobrir é que eu não sou o único que vai ao cinema sozinho. Faço parte de uma turma, ainda que pequena.
Minha mente era um rebuliço só. Olhava para a tela branca e via imagens. Bizarras. Macabras. Tenebrosas. O mundo parecia estar acabando. O meu mundo. O meu Apocalipse. As imagens eram indefinidas, mas eu via bem a natureza destas. E sabia o significado de cada uma daquelas pequenas coisas indecifráveis. Elas tinha uma ligação quase que psíquica com minha mente. Era minha mente falando. Falando, não. Não estava usando minhas cordas vocais. Dizendo. É. Era minha mente dizendo. Tudo de ruim que ela tinha e pensava.
Aquilo daria um péssimo filme. Não serviria para circuito alternativo e muito menos, comercial. Talvez para alguma obra de arte a la Kandinsky, Miró e Malevich. Afinal somos todos indefiníveis.
Stop. Apaguei minha imagem. A tela voltou a ficar branca.
Virei para o lado. Havia um cara com o olhar vidrado à sua frente. Devia estar vendo seu próprio filme também. Mas a expressão era péssima. De medo. E desgosto.
Torci para que o filme de verdade fosse melhor que os das nossas mentes.
Olhei para o relógio. Fazia apenas cinco minutos que eu estava sentado ali. As luzes ainda estavam acesas.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Imagens no ônibus

Quarenta e oito. Um número par. Vinte e quatro de um lado, vinte e quatro de outro. Doze fileiras. Quatro colunas. Entre um lado e outro, um corredor. Nas colunas extremas, presença de janelas.
A vista? Depende. Do lugar, do caminho e da hora. Se é dia ou noite. E do que se quer ver. Cada olho é um olho e cada mente é uma mente. Respeitemos.
Alice estava num assento da coluna à extrema direita. Tinha um janelão para si. Encontrava-se dentro de um ônibus interestadual que percorria a estrada rumo à cidade onde visitaria sua avó.
Um MP4 ligado baixinho a distraía junto à janela. Via as imagens borradas do impressionismo, a impressão que ela tinha era única e pessoal. Transmitiria a imagem concreta e seu interior abstrato para uma tela, pensou.
Alice era uma artista plástica, tinha como suporte favorito a tela, variando muito as técnicas. Tinha uma influência muito forte do surrealismo de Salvador Dalí.

©2007 '' Por Elke di Barros