quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Telegrama Farjuto


Recebi um telegrama noite passada. Não sei porque, mas tive medo de abri-lo. Talvez eu tenha imaginado coisas catastróficas. Também pudera... depois de uma tromba d´água, não era difícil. Sou do gênero que "adora" tempestade num copo d´água.
Era do Garcia. Melhor assim. Ou pior. Conhece faca de dois gumes? Dois lados. Um positivo, outro negativo. O telegrama do Garcia era assim. Não abri de imediato. Sentei-me na poltrona verde-musgo encardida que estava de frente para o aquecedor.
Garcia é o chefe da editora. Desenho para livros em quadrinho. E um telegrama do dito cujo poderia significar coisa boa ou ruim. Ele tem o estranho hábito de mandar tudo que é notícia ou ordem por telegrama. Não me pergunte porque. Eu não sei. O mundo está cheio de pessoas esquisitas e Garcia não foge à regra.
Não devo ser lá muito normal, afinal já dizia o poeta "de perto ninguém é normal". Ainda assim, tenho medo de estranhos. Não de estranhos no sentido de desconhecidos, mas de esquisitos.
Garcia uma vez foi flagrado andando na rua com uma melancia na cabeça. Não, não é delírio. É um fato. Tenho ou não tenho que ter medo de abrir um telegrama desse sujeito?
Apesar do frio curutibano, senti uma gota de suor descer pelas costas abaixo. Mais uma. E outra. Ao todo, três gotas ácidas.
Resolvi abrir a budega do telegrama. Era melhor acabar logo com aquilo. Esse lero-lero de abro- não abro.
Senti o vapor quente do aquecedor e destaquei as partes laterais. Desdobrei, vi as letrinhas do recado, mas não li no primeiro momento.
Que estaria escrito ali?
Pára com isso, leia essa coisa logo! - disse para mim mesmo.
Li, finalmente. Que perfeito idiota era o Garcia! Um telegrama para dizer que queria que eu desenhasse a Mafalda, de Quino. Até parece que foi plagiar o grande Quino!
Das duas, uma. Ou Garcia é muito mais que um porra louca ou está gozando da minha cara.
A resposta e a continuidade no emprego, só saberei amanhã.
E o amanhã não chega!

©2007 '' Por Elke di Barros