quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A consciência do não existir

Distante. A não sei quantas mil léguas. No mundo da lua. Num lugar onde ninguém me encontra. Onde ninguém lembra que eu existo.
Meu nome não sai publicado em lugar algum. Para quê? Eu não existo. Talvez tenha morrido. Talvez nunca tenha nascido. Talvez meu nome seja apenas fruto de uma imaginação.
A prova, as notas, os exames médicos, a perícia. Tudo isso não passou de um sonho. Um sonho irreal. E eu, tola, lá do mundo da lua, acreditando que era verdade. Tolice! Como é que fui acreditar num sonho que nada mais é que um quadro de Salvador Dalí ou uma fotomontagem de Francisco Aszmann? Burra que sou!
Moro muito longe. Num lugar que para você chegar tem que atravessar o portão da inexistência.
Aqui, no meio do nada, tento fazer alguma coisa. Estudar. Não me concentro. Minha mente é como um caldeirão em ebulição. Ferve. Com bolhas grossas. Que se misturam ao salgado das minhas lágrimas. Estudar não dá. Vou pintar. Cores. Apenas cores. Figuras não definidas. Não-figuras. Formas apenas. Formas indefiníveis. Em cores sem regra. Com lápis aquarelável. Adianta um pouco. Os nervos dão uma esfriada. Leio. Um romance pseudo-autobiográfico fictício. Confuso? Mas é isso mesmo. Segundo o autor, "tudo isso aconteceu mais ou menos". Um pouco de ficção, um pouco de fatos reais. Desligo-me da minha não existência. Distraio. Escrevo. Uma crônica, uma poesia e um romance. Lembro de novo do meu estado. Choro. Escondido. No banheiro. Quero existir!
Vou procurar meu nome nas certidões de nascimento nos cartórios.
Não falo, não desabafo com quase ninguém. Estou no mundo da lua. Lugar intangível. Não sou encontrada nem encontro alguém. Não converso. Salvo com alguém que também não exista e não tenha carteira de identidade expedida pelo DETRAN ou IFP. E assim (des)curto sozinha a minha não existência.
Quero voltar para o mundo real. Se é que algum dia já fiz parte dele. Quero ter uma certidão de nascimento, uma identidade. Quero ter feito aquela prova, aqueles exames médicos, aquela perícia. Quero meu nome publicado na Imprensa Oficial da União. Só quero ser lembrada! Só quero existir!

domingo, 3 de outubro de 2010

Frango e Submarino


Certa vez conheci um menino,
num ano não muito longíguo,
tão logo tinha passado a adolescência.
Um menino
que gostava de frango-
o bicho, não a comida -
e que tinha um apelido atípico.
Um excêntrico engraçado,
com quem vim a me acostumar
ao longo do tempo,
num ambiente de loucos,
nem sempre divertido,
Aos poucos fiz descobertas,
vi quem era o menino
que gostava de frangos -
de pelúcia, diga-se de passagem.
Ficamos amigos,
além do ambiente de malucos-nem-sempre-beleza.
Tenho nele
alguém em quem posso confiar,
Como confiar
num menino que gosta de frangos?
Amizade
vai além de idiossincrassia.
Ele era um Porto seguro
que se transformou
num submarino,
que agora afunda
para tomar seu rumo.
Rumo ao sucesso,
à felicidade,
à realização.
Mas as marcas d´água
hão de ficar.
O submarino
está indo embora,
Embora entre aspas.
Estará longe,
no fundo do mar,
mas não há nada
que me impeça de alcançá-lo,
tenho pés-de-pato
embaixo da minha cama.
E a Deus agradeço
o rumo que todos nós
estamos tomando.
Um dia,
talvez um pouco mais longíguo,
olharei a estrada do mar.
verei a glória dos peixinhos coloridos,
e dar-me-ei conta,
do quanto tudo valeu a pena!


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Ry, amigo querido! Vá... e seja muito feliz "nas Minas do Rei".

©2007 '' Por Elke di Barros