quarta-feira, 15 de junho de 2011

Nas entrelinhas da subjetividade

O mundo explodiu. Ou saí dele e não me dei conta. Posso ter dormido e acordado no país da fantasia. Ou talvez tenha ficado maluca. Mas isso não tem importância. Assim, posso escolher uma das opções. Fico com a primeira. O mundo explodiu. E agora vejo coisas bizarras conspícuas e inconspícuas. Descrever para você? Melhor fazer um filme.
No meio dessa bagunça, achei uma cafeteria. Lá fui eu. Sentar, tomar um capuccino e talvez comer um pãozinho de queijo. Não tinha nada disso. Me ofereceram um troço (esquisito que nem o lugar) à base de cafeína também. Mas até que estava gostoso. Sentei-me. Um gato vira-lata se aninhou nas minhas pernas. Acariciei. O bicho gostou. Ficou mais à vontade. Subiu no colo. Deu uma lambida na minha bebida. Sem reação. Foi como eu fiquei. E se ele tivesse uma doença, se tivesse matado uma lagartixa há pouco? Era melhor jogar tudo fora.
Senti algo no meu ombro. Uma mão.
- O ralo da pia é ali, mas se eu fosse você, não iria até lá.
- O que quer dizer com isso?
- Aprenda a captar sinais e meias palavras. Aí sim, entenderá sozinha minha frase.
- Mas... - parei. A pessoa não estava mais ali. Nem sei quem era. Não deu tempo de perguntar. Não sei se perguntaria, de qualquer forma. Aquele tom autoritário...
Era melhor obedecer e não chegar perto do ralo da pia. Mas o que havia lá? Um perigo à espreita? Que perigo? Naquele mundo bagunçado, explodido, eu não sabia de mais nada. A lógica não fazia sentido.
O gato continuava lambendo minha xícara. Desisti da bebida. Não tinha importância. O ambiente à minha volta tinha seu atrativo. Seres estranhos com suas particularidades, talvez comuns na imaginação infantil: como uma pulga com cara - e óculos fundo de garrafa - de intelectual, andando de ponta-cabeça.
Quando me dei conta, estava com a boca aberta, o queixo caído. E o gato porco a lamber meus dentes.
Fiquei puta, com nojo, joguei-o pro lado. Mas ele subiu no meu colo de novo.
Concluí que era melhor ficar amiga íntima dele de uma vez. Tomei o resto da bebida. Entendi o sujeito. Eu não devia jogar nada fora porque eu e o gato éramos uma coisa só. Uma unidade.
Levantei com o bicho no colo. Ia para casa dar um nome a ele. Onde era minha casa agora?
Eu teria que descobrir.

©2007 '' Por Elke di Barros