sábado, 30 de julho de 2011

Cheguei! sem avisar

Numa tarde de julho, Aline estava em casa. Estudando para esses concursos da vida que volta e meia abrem. Creio que ela estava na parte da gramática. Toda concentrada.
Foi quando o telefone tocou e a Surpresa apareceu. Todo mundo sabe que a surpresa é um sujeito que sempre aparece sem avisar. Naquela tarde, entrou pela janela. Sem a menor cerimônia. Mas Aline não a viu. Correu para atender o telefone.
Quem estava lá, de pessoas a moscas e almas penadas, viu a cara de Aline. Estupefação. A negação no primeiro momento. Não se sabe se você notou, mas o ser humano quando fica surpreso, tende a negar no primeiro momento. Isso porque ele tem dificuldade de acreditar, mesmo que seja coisa boa. E Aline, sendo uma pessoa, tinha características genuinamente humanas.
E assim, ela custava a crer no que ouvia. Quando caiu a ficha, uma lágrima quase saiu dos olhos, indo na direção da força da gravidade. Mas ela se controlou. Ou, como diria os cariocas, segurou a onda. Como se ondas fossem grades.
Depois conversou como gente grande. Mas as faces denunciavam a presença de mais alguém naquela casa. A Surpresa que entrara sem alguém ver. Os presentes na casa a viram. Mas ninguém se importou.
Aline estava feliz.

domingo, 17 de julho de 2011

Pela janela do flerte

No meio da calçada. Entre o prédio e a rua. Caminhava ele. Sozinho. Com uma sacola na mão. Pressuponho que seja pão. Todo mundo compra pão na padaria da esquina às seis da tarde. E ele tinha cara de ser igual a todo mundo. Não me lembrava em nada o Do Contra da Turma da Mônica.
Eu também costumo comprar pão e andar ali neste horário. Mas hoje não fui. Tenho um prazer indescritível em quebrar rotina! Por isso, quando fui ao supermercado, comprei pizza de uma daquelas marcas famosas e coloquei no congelador. Hoje eu vou comer pizza. Pizza, vinho e filme. Uma agradabilíssima combinação. Romântica, quase sensual. Mas ainda era cedo e não me dera fome. Fui para a janela. Espionar o povo lá embaixo. Amo fazer isso. Apreciar o movimento dos transeuntes que nem percebem que estão sendo observados. Foi então que o vi. Ele. O vizinho. Não sei te dizer se é bonito, mas tem um charme só!
Ele é meu vizinho de porta desde que me mudei. Nunca trocamos mais que um "Bom dia". Sequer sei o nome dele. Não sei o que ele faz da vida. Só sei que ele me atrai - e muito.
Vi-lo entrar no prédio. Ficar na janela de repente perdeu o sentido. Fui então, ler um livro. Machado de Assis, creio. Iaiá Garcia.
Mais tarde, eu já tinha posto a pizza no forno, tinha passado das primeiras páginas, quando a campanhia tocou. Estranho. Eu não tinha visitas para receber hoje. Olho mágico serve para isso. Caí dura, quase. O vizinho. Batendo à minha porta. Literalmente. Abri.
- Desculpe, mas comprei pão e esqueci da manteiga. Você tem um pouco para me dar?
- Não tenho.
- Aqui está um cheiro bom!
- É a pizza.
- Adoro pizza.
- É grande, não vou conseguir comer tudo sozinha. Quer dividir comigo? Tenho também uma garrafa de vinho.
O desfecho é com vocês!

©2007 '' Por Elke di Barros