O globo rodopiava. Girava. Não importa o termo. Luís fingia que era o sol. Ora uma parte era dia e outra noite, ora vice-versa.
Ele gostava de entrar na biblioteca do pai para fazer isso: rodar o globo terrestre e transformar o cômodo num universo. Pequenos objetos poderiam ser as estrelas. Na sua imaginação, ficava ali, irradiando luz sem cessar, iluminando o planeta.
À vezes ficava horas a fazê-lo, a imaginar-se um foco de luz, a rodar o globo redondo.
Os pais não o compreendiam. Achavam que ele seria astronauta quando adulto. Ou um astrônomo. Imaginavam que o filho gostava (ou gostaria) de estudar o universo.
Mas Luís não pensava em nada disso. Nas brincadeiras, o foco era ele próprio. Era a luz que fingia emanar à Terra, aos outros planetas do sistema solar e à lua.
Luís só imaginava a lua cheia, bem iluminada. No seu mundo não existia lua nova, nem crescente, nem minguante.
Ele gostava de luz. Não era a toa que preferia o dia a noite. Dentre as noites, preferia as de lua cheia que eram mais claras e brilhosas.
A luz elétrica não o interessava. Gostava das luzes naturais. Do sol. Do vaga-lume. Enfim, daquilo que era proveniente da natureza.
Luís tinha cinco anos. E sabia que queria ser Deus.