segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Acorde, fale, descubra!

No mundo de Matisse, ela estava. Sim, ela via as coisas meio.... meio o quê mesmo? Meio diferentes. As imagens não pareciam fazer muito sentido. Mesa e paredes vermelhas. Era com certa dificuldade que percebia onde começava e onde terminava a mesa de jantar. Seria de jantar mesmo? Até isso ela teria dificuldade de responder, se você perguntasse. Mas ninguém perguntou, eu acho. Nem dentro, nem fora do cenário. Cenário? Aquilo era mesmo um cenário? Ela não sabia mais se era ela mesma ou uma personagem. Aqui e agora, certeza é uma palavra inexistente. Dúvida, essa sim, ocupa todas as páginas do dicionário. Assim como pergunta, interrogação e todos os similares.
Como prosseguir, sem medo de pisar, num ambiente desse? Ela não estava acostumada com o irreal que não chegava a ser exatamente uma representação do real, tampouco uma abstração. Ela se perguntava por que não caíra num mundo abstrato. Às vezes podia ser tão mais fácil lidar com linhas, formas, curvas, pingos, ou o que quer que fosse. Mas transição? Alguém aí consegue andar em cima de um muro ou de um meio fio? Uma ginasta talvez conseguisse. Mas ela não era uma ginasta. E como tal, seu equilíbrio não era lá grandes coisas.
Ela então se lembrou do romance Pollyanna. Resolveu fazer o jogo do contente, antes que a angústia a dominasse. Ficou contente de ter uma boa visão. O fato da mesa e das paredes terem a mesma cor confundia, mas os detalhes de ambas as superfícies ajudavam na hora de diferenciá-las. Pensou que fosse míope e estivesse sem óculos, poderia estar em apuros. E se fosse daltônica, também. É, ela ficou contente. E com o “contentismo”, ganhou autoconfiança. E com a autoconfiança, foi em frente. Explorou o cenário (eu sei que pode não ser exatamente um cenário, mas às vezes é necessário nomear as coisas, ainda que de forma errônea). Chegou perto de uma mulher. Esqueci de contar antes. Havia uma mulher ali. Não sei quem ela era. Não importa. O que faz diferença é que havia uma mulher no cenário a ser explorado. A dita cuja vestia uma indumentária nada comum nos dias atuais. Dos fins do século dezenove. Ou início do vinte. Não sei precisar, mas é o suficiente para te situar. Ela tentou conversar, mas a mulher não lhe deu muita confiança. E assim, ela saiu do ambiente sem saber como. O cenário evaporou-se.
Ela acordou. Descobriu que se tratava de um quadro. Harmonia em Vermelho, de Henri Matisse. E que a roupa era do início do século vinte.

Estivera sonhando.

©2007 '' Por Elke di Barros