terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O choro e a canseira

Numa tarde de terça feira, João estava cansado. Sem ânimo para trabalhar, e o computador em nada ajudava. Olhar para o monitor dá mais sono e suga as últimas energias que ele tem. As últimas, porque as primeiras foram consumidas pelo mau momento e pelo choro. Quem foi que disse que homem não chora? Não foi assim que a mãe de João o educou. Ele aprendeu a se expressar, pelo menos consigo mesmo. Aprendeu que ser humano sente. Coisas boas e más. Que todos os sentimentos passam. E que os ruins têm que se extravasados, para que não se acumulem, feito poças de água suja.
Um acontecimento recente mudaria toda a vida de João no ano seguinte. Em termos práticos e emocionais. Ele teria que aprender a lidar com a frustração provocada por uma circunstância. E como estava sendo doloroso! Queria deitar-se na cama e chorar copiosamente, até esgotar toda a porcentagem da água que tem no organismo. Não, ele não queria morrer. João gosta da vida. Mas queria que o tempo parasse. Não que ele tenha medo de mudanças, longe disso. Acontece que abriria mão compulsoriamente justo da última coisa que escolheria para não fazer mais parte do seu presente.
João estava trabalhando no automático. Porque é responsável e tem um tal de correio que sempre faz com que tenha contas a pagar. Mas ele sabia que não estava sendo honesto com o chefe nem consigo mesmo. Sabia que o trabalho não estava rendendo. Cochilava no computador sem perceber. As noites de sono vinham sendo prejudicadas pela combinação de lágrimas e soluços. Aí está a grande desvantagem de trabalhar em escritório: alimenta o sono. Inviável não dormir depois de horas sentado. João dorme sentado, de cabeça em pé. O chefe vê, a secretária vê. Fazem vista grossa. Todo mundo tem direito a um mau momento, eles devem saber. Mas também não perguntam o que houve. João é muito na dele, não diria de qualquer forma. Resta-lhes estão, não importuná-lo em seu sono de trabalho. Sabem que o serviço será finalizado antes do prazo, custe o que custar para o pobrezinho.
O céu se fechou e armou o temporal. O barulho forte das gotas violentas a bater na janela, acordou João. Ele olhou, ainda assustado, para fora e sorriu. Parecia que a chuva compactuava de seus sentimentos.

©2007 '' Por Elke di Barros