Sair do trabalho num dia de chuva todo mundo faz. Entrar num ônibus com guarda chuva molhado, também. O que eu não sei se alguém já percebeu é que o Humaitá fica mais bonito.
Muito já falaram dos sóis de Ipanema e Copacabana. E da chuva do Humaitá vista de dentro do ônibus, quando você está indo para o Jardim Botânico? Se você já ouviu, me conta. Eu nunca ouvi. Não ouvi, mas vi. Vi e senti. O tal ar que não se respira, se vê. A tal música que não toca, se apresenta. O meu paraíso de construção artística.
Nunca tinha pensado nisso, mas gostaria de ter dois ateliês. Um em Ipanema pros dias de sol. Outro no Humaitá pros dias de chuva.
Quero descer do ônibus e comprar pão quentinho naquela padaria que está com o chão molhado. O tal chão quadriculado azul e branco, cujo branco já está amarronzado pelos sapatos molhados e sujos que se movimentam num constante entra e sai. Olhando de longe, tudo me parece um espetáculo de sapateado nos palcos do teatro Villa Lobos antes de ser lambido pelo fogo.
Minha mente começa a fazer um emaranhado com a cena do Humaitá em dia de chuva. Minha criatividade mistura as artes cênicas com as visuais. Não sei se escrevo um roteiro para um musical, se produzo videoarte, se pinto uma tela a la eu mesma, se faço uma foto (quisera eu estar com minha câmera aqui, mas celular sempre resolve em casos de emergência).
O sinal abriu. O ônibus andou. De repente, perdi a oportunidade. Quem mandou pensar muito?
Quase a mesma a praça
Há um ano