O céu estava azul, mas ainda dava para ver o chão molhado
da chuva da madrugada. Era o começo de um belo domingo. O domingo decisivo. O
domingo da notícia. Mas é cedo e nossa personagem ainda não sabe disso. Ela está
vivendo o momento. De acordar, tomar café com leite, escovar os dentes, tirar o
pijama, tomar uma ducha, cuidar dos cabelos, arrumar a cama, se olhar no
espelho, sentir-se bela, se esparramar e ler um livro, regar as plantas. Enfim,
essas pequenas coisas do dia a dia que fazem parte até dos finais de semana.
Almoçou macarrão com molho de ervas finas e queijo
derretido, acompanhado de um copo de mate. Nossa personagem é uma carioca
esquisita, não gosta muito das praias de Ipanema, mas se amarra num mate
gelado. Escovou os dentes , saiu de casa e pegou um ônibus. Ela ainda não
sabia, mas estava indo ao encontro da notícia.
Notícia recebida. Possibilidade infinita de reações. A
maioria das pessoas apostaria no choro, eu creio. Mas não. Ela não fez isso.
Aparentou serenidade, porque era isso que ela realmente sentia. Pelo menos
naquele primeiro momento. E deu um leve sorriso. Não ficou triste com o que
seria julgado de má notícia por grande parte dos seres humanos. Ela não saberia
explicar, mas uma certa leveza tomou conta do seu íntimo. Às vezes é melhor
saber de algo “ruim” – se é que podemos chamar de ruim – a caminhar na
escuridão, pensou. E eu, a narradora, concordo com ela. É mais fácil saber em
que terreno estamos pisando, areia movediça não é muito legal.
Agradeceu aos amigos que se preocuparam com ela. Porque
naquele dia, seu celular não parou de tocar, de gente querida perguntando se
estava tudo bem. Sim, ela estava bem, e tocou a vida para frente, mantendo o
resto da programação que tinha para o dia. Olhou para o céu, ainda azul, e
agradeceu pelos amigos que a vida a presenteou. Eles têm gestos tão lindos,
como não amá-los?
Agora, nossa personagem vive um momento de reflexão.
Reflete se vale a pena refletir. Se compensa tentar entender. Pensa em como
deve se portar diante do novo cenário. E espera a resposta com o coração calmo
e os lábios a sorrir.