Eu era uma menina quando tudo aconteceu. Não tinha idade para entender o quão grave era aquilo. Mas sabia que o curso da minha vida mudaria para sempre.Sabia que não veria mais minha mãe. Chorei. Não pela dor da perda, até porque eu não compreendia isso. Chorei por me sentir indefesa. Afinal, é assustador para qualquer um ver uma poça de sangue, imagine para uma menina.
Eu estava dormindo, agarrada a um tigre de pelúcia quando ouvi um grito. Um grito de mulher. Senti medo. Cobri minha cabeça com a coberta. Ouvi outro grito, ainda mais medonho. Continuei debaixo da coberta e tapei os ouvidos. Não sei quanto tempo fiquei assim. Só sei que me pareceu uma eternidade.
Os gritos cessaram. Tudo ficou no mais completo silêncio. Não ouvia nada além do cochiar dos sapos lá fora.
Não dormi mais naquela noite. Quando o sol começava a despontar no horizonte, tomei coragem e me levantei.
Mas eu não sabia que o pior ainda estava por vir. Eu não sabia o que veria. Muito menos, que eu não aguentaria. Eu era uma menina!
Na minha inocência, a primeira coisa que pensei foi que tinham feito arte na sala com tinha vermelha. Até ver o corpo de minha mãe, caído no chão, inerte e inanimado. Foi então que entendi que o vermelho era sangue. Vomitei, horrorizada. Não sabia o que pensar. Não pensei. Apenas agi. Corri lá para fora. O sol estava nascendo e o orvalho da noite molhava meis pés descalços.
Fui encontrada horas depois à beira do riacho, jogando pedrinhas na água. Me levaram para casa, minha mãe não estava mais lá e o sangue também não.Minha avó me pegou no colo e me ninou. No dia seguinte, me levou consigo. Fui morar na cidade grande. Os sapos, os grilos, a grama molhada pelo orvalho da noite ficaram para trás.
Eu era uma menina que nunca tivera pai. Agora também não tinha uma mãe.
E eu era só uma menina.
Quase a mesma a praça
Há um ano
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