Este é o Ronaldo. Um cara digno. Digno, mas não perfeito.
Tem coisas que ele detesta. Olhar para a parede é uma delas. Dá tédio. Mas cá entre nós, o que uma parede tem de interessante? A capacidade de fazê-lo se sentir um inútil.
Para quem não sabe, aí vai uma informação: a parede dialoga. Dialoga, fala, diz. Ronaldo sabia disso. E ouvia a voz da parede.
- Você é um inútil. Não faz budega alguma.
- Mandaram eu esperar. - retruca.
- Mas você é burro, hein! Não sabe que existem coisas que podem ser feitas enquanto se espera?Ou será que sou uma popozuda interessante de se olhar e não sei?
É sempre esse diálogo que Ronaldo ouve quando toma chá de cadeira ou de chão - porque às vezes espera de pé. Não é à toa que detesta esperar.
Sente-se um imbecil, um inútil, fica um tanto entediado e ainda tem que ouvir um sermão de uma parede!
Foi então que descobriu seu maior talento, e posteriormente, ofício. Resolveu passar a carregar um caderninho, um lápis e uma borracha de seringueira branca. Desenhou, desenhou, desenhou. Todas as vezes que precisou esperar.
Virou desenhista profissional. Largou o antigo emprego, um daqueles empregos convencionais. Mais tarde, ganhou destaque. Virou cartunista. daqueles com personagens próprios. E adivinha quem se tonou sua criação principal?
A Adagilsa, claro.
Mas quem é Adagilsa? Um tipo caricato?
Não, claro que não. É a parede!
1 comentários:
Anda falando e levando muitos sermões de paredes. Já providenciei meu bloquinho e caneta há tempos, mas em invés de desenhar, escrevo. Será que a parede ainda será a protagonista das minhas escritas?
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