Distante. A não sei quantas mil léguas. No mundo da lua. Num lugar onde ninguém me encontra. Onde ninguém lembra que eu existo.
Meu nome não sai publicado em lugar algum. Para quê? Eu não existo. Talvez tenha morrido. Talvez nunca tenha nascido. Talvez meu nome seja apenas fruto de uma imaginação.
A prova, as notas, os exames médicos, a perícia. Tudo isso não passou de um sonho. Um sonho irreal. E eu, tola, lá do mundo da lua, acreditando que era verdade. Tolice! Como é que fui acreditar num sonho que nada mais é que um quadro de Salvador Dalí ou uma fotomontagem de Francisco Aszmann? Burra que sou!
Moro muito longe. Num lugar que para você chegar tem que atravessar o portão da inexistência.
Aqui, no meio do nada, tento fazer alguma coisa. Estudar. Não me concentro. Minha mente é como um caldeirão em ebulição. Ferve. Com bolhas grossas. Que se misturam ao salgado das minhas lágrimas. Estudar não dá. Vou pintar. Cores. Apenas cores. Figuras não definidas. Não-figuras. Formas apenas. Formas indefiníveis. Em cores sem regra. Com lápis aquarelável. Adianta um pouco. Os nervos dão uma esfriada. Leio. Um romance pseudo-autobiográfico fictício. Confuso? Mas é isso mesmo. Segundo o autor, "tudo isso aconteceu mais ou menos". Um pouco de ficção, um pouco de fatos reais. Desligo-me da minha não existência. Distraio. Escrevo. Uma crônica, uma poesia e um romance. Lembro de novo do meu estado. Choro. Escondido. No banheiro. Quero existir!
Vou procurar meu nome nas certidões de nascimento nos cartórios.
Não falo, não desabafo com quase ninguém. Estou no mundo da lua. Lugar intangível. Não sou encontrada nem encontro alguém. Não converso. Salvo com alguém que também não exista e não tenha carteira de identidade expedida pelo DETRAN ou IFP. E assim (des)curto sozinha a minha não existência.
Quero voltar para o mundo real. Se é que algum dia já fiz parte dele. Quero ter uma certidão de nascimento, uma identidade. Quero ter feito aquela prova, aqueles exames médicos, aquela perícia. Quero meu nome publicado na Imprensa Oficial da União. Só quero ser lembrada! Só quero existir!
Quase a mesma a praça
Há um ano