Escrever. Era o que eu queria fazer. Mas era impossível. Minha mente estava em atividade máxima. E isso embaralha as coisas. Não consigo organizar meus pensamentos nessas condições.
Sobre a mesa do meu quarto que às vezes funciona como escrivaninha, um lápis, uma borracha quase inútil de tão pequena e suja, algumas folhas ofício e um notebook. Vê-los me deu ânsia de vômito. Pelo simples fato de que queria escrever e saber que não conseguiria. Estava incapacitada de produzir qualquer tipo de arte. Coloquei o chinelo e fui lá pra fora. Andar. Para desanuviar a cabeça. Esquecer um pouco aquele mundo de coisas que invadiam o meu interior. Tudo se atropelava, talvez eu conseguisse colocar um sinal no tráfego dos meus neurônios. Droga! Eu queria acreditar nisso. Mas não conseguia.
Raiva. Chutei uma pedra portuguesa solta desavisada que apareceu na minha frente. Estava de tênis, um all star velho e furado, mas era o suficiente para não machucar meu pé.
Tênis? Chinelo? Ah, não sei mais. Já peguei chuva de chinelo, de all star furado. Aquele dia foi apenas mais um e certos detalhes me fogem à memória.
Andei até ficar toda encharcada e não sobrar uma parte seca do meu corpo. E então, comecei a correr. Correr na chuva. Pisar em poças e jogar água para todos os lados. Me imaginar com uma capa amarela e cantar, rodopiando postes de luz. Se me vissem, achariam que eu tenho problemas psiquiátricos. Mas não havia ninguém na rua. Era madrugada. Sorte a minha de não morar em cidade grande e poder andar sem medo.
Voltei para casa, entrei pela porta da cozinha. Me despi. Deixei a roupa no tanque, para não molhar o carpete.
E então, tive uma ideia. Corri, peguei o lápis e uma folha de papel.
Ufa! Livrei-me do sentimento de escritora fracassada.
Quase a mesma a praça
Há um ano
3 comentários:
Usarei da tática, até pq anda chovendo muito em Fortaleza.
Bom, quanto a linguagem do Gabeira, ela é simples, sem floreios, mas consistente. Não usa termos para chocar, só a história por si que choca, né. Narra em primeira pessoa, então tem horas em que fica rodando e divagando um pouco seus próprios pensamentos e sentimentos. Na maioria das vezes é bacana.
Correr na chuva, molhar-se na chuva, encharcar-se na chuva...É a loucura na chuva! ótimo texto, abraços...
Oi, Juliana. Belo texto, singelo, à flor da pele, belo... como a autora. Abraço, Welton
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