João Carlos ou Joca. Algumas pessoas o chamam do primeiro jeito, outras, do segundo. Mas não faz diferença. Ele atende a ambos os chamados.
Joca era um menino. De nove anos. Morador de uma metrópole litorânea. Foi vendo o mar que tomou uma decisão para toda vida. Seria um escritor.
Naquele dia, quando chegou da praia, informou à mãe a decisão. Ela achou graça. Riu. Crianças vivem tomando decisões para vida toda a cada quarenta minutos.
Mas Silvana enganou-se. Redondamente. Joca cresceu. Tem agora trinta e dois anos. E se sustenta com a escrita. Tem uma coluna de crônicas numa revista eletrônica. E publica livros. Um por ano, em média. Ora é ficção, ora crônicas. Às vezes vende muito, outras nem tanto.
Silvana lamenta. Tem um pensamento diferente. Por demais conservador, digamos. É daquelas que pensam que escrever é o mesmo que vagabundear. Tinha que ter dado ouvidos ao Joca de nove anos, ao Joca criança da Copacabana dos anos 80. Talvez hoje ele tivesse alguma profissão. Sim, porque escritor não é profissão. É apenas um nome bonito para quem não faz bosta nenhuma e passa o tempo rabiscando letras em papéis avulsos ou em cadernos, que seja. Um filho escritor, que ideia! De nada adianta os argumentos de Joca, citando escritores importantes da literatura brasileira. É tudo um bando de vagabundo, Machado, Fonseca, Lobato, e todos os demais - Silvana sempre retruca. Ela queria um filho médico. Ou advogado Ou engenheiro. Ou até mesmo professor universitário. Enfim, qualquer profissão respeitável.
Até que Joca desistiu. É perda de tempo. Não vai abrir mão do que o realiza em detrimento da mente pequena da mãe. Ela o considera um vagabundo? Dane-se. Pelo menos consegue pagar suas contas sozinho.
Manda convite de todas as noites de autógrafos para a mãe. Nem sempre ela comparece. Paciência. Joca aprendeu a lidar com isso.
Se dói? Dói. Mas Joca sabe dar valor ao que tem. Ele ainda tem os almoços de todo domingo na casa dos pais. Ainda vê o pai toda santa semana no apartamento de Copacabana. E este, já senhor, aprendeu a mexer no computador para ler as crônicas do filho. Vai a todos os eventos, lê e relê todos os livros. Típico pai coruja. Orgulhoso do ser que pôs no mundo. Do ser que criou.
Numa tarde de sol, em dezembro, Joca saiu do banho frio. Tinha refletido sobre os pais. Quanto contraste! E aí saiu uma crônica. Talvez a mais polêmica de sua carreira. Yin Yang; Sol e Chuva.
Quase a mesma a praça
Há um ano
1 comentários:
Adorei essa crônica, mesmo! Ju tá seguindo os passos de Joca? Ah, e quanto a ele, embora a mãe ache que escrever é vagabundear, seu pai compensa isso. É importante.
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