Meio dia e treze. Era o que o relógio digital no pulso dela marcava. devia estar certo; ela era daquelas que ligava para o 130 e verificava até os segundos.
Neurose? Talvez. Idiossincrasia? Com certeza. Mas isso pouco importa. Não faz diferença num simples relato cotidiano.
Clara estava no seu horário de almoço. Tinha acabado de fazer uma refeição rápida. Algumas folhas, filé de salmão ao molho de alcaparras, suco de acerola. Com o estômago satisfeito, estava agora dentro de uma igreja. Qual, ela não saberia dizer. Não era importante. O que fazia diferença era que Clara conversava com Deus. Em silêncio, usando o mental, mas conversava. Punha em prática a sua fé. E a sua pequenez, ao se dirigir a algum ser superior sem poder vê-lo, tampouco saber como Ele é.
Mas Clara não ligava para isso. Com a roupa elegante do trabalho e sapatos de bico, desnudava-se. Espiritualmente falando, claro. Conversava, implorava, pedia orientação, agradecia. Transparente e translúcida, jogava-se nos braços de Deus.
O curioso é que ninguém via a beleza da cena. Quem imaginaria que Clara, com sua cara e indumentária de executiva tinha fé?
Não, ela não é católica. Não tem uma religião definida. Acha que religiões são rótulos. Ela apenas gosta de conversar com Deus. Em qualquer lugar silencioso e propício à oração.
Sente-se mais leve agora. Com a alma lavada e despida de impurezas. Olha para o relógio. 12:33. Hora de sair. Correndo. De volta ao trabalho.
Quase a mesma a praça
Há um ano
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