domingo, 28 de novembro de 2010

Caminho do Corredor

O corredor estava escuro e úmido. Era lamentável que não houvesse outro caminho. Tentei adaptar meus olhos à escuridão. Passei a enxergar alguma coisa e conseguia ver onde havia poças d´água. Menos mal.
Embora não fosse tão forte a ponto de paralisar, o medo estava ali. Aqui. Dentro de mim. E assim eu caminhava, receosa.
Sabia o que encontraria no final. O problema era o caminho. O que encontraria no decorrer daquele corredor. Não sabia que tipos de fantasmas ali habitavam. Nem o que tinha dentro daquelas poças. Nem o que poderia sair de dentro das portas laterais. Não sabia quanto tempo levaria para chegar ao final. Segundos? Minutos?
Haveria ventos sussurrantes em cada curva? Algum esqueleto ambulante? Ou Peter Pan apareceria onde o vento faz a curva e me levaria para a Terra do Nunca? Talvez não fosse uma má opção. Terra do Nunca. Às vezes eu gostaria de ser criança outra vez e sê-lo para todo o sempre. Mas não. Peter Pan não aparecerá. As flores estão no destino.
O caminho é feito de pedras e vidros quebrados e pontiagudos.
Parei com meus devaneios. Olhei em frente. E dei o primeiro passo.

domingo, 7 de novembro de 2010

Meu mundo de hoje

Quando eu era criança
brincava de Barbie,
andava a cavalo,
dava cambalhotas na piscina,
dava colo a cachorrinhos,
subia em árvores.
E não visitava museus.
Quase não me levavam ao cinema.
Não tinha desenhos em VHS.
Nunca tinha lido Ruth Rocha.
A cultura estava do outro lado do mundo,
onde eu não enxergava,
não estava no meu cotidiano.
E assim,
o tempo foi passando,
eu, crescendo,
desnudando-me,
descobrindo-me.
Enxerguei o que não via antes,
apresentei-me a quem não havia sido apresentada.
Conheci a cultura,
conheci a literatura,
conheci a arte,
conheci os museus.
Formei então
meu círculo de amigos:
os cults,
os intelectuais,
os literatos,
os artistas,
os museólogos.
Reconstruí meu habitat
num outro mundo,
que me permita ser
eu,
uma eterna aprendiz.
Um mundo
de criatividade,
cuidado,
loucos,
obras,
criação!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pasárgada

Sabe de uma coisa? Quintana estava coberto de razão. Quando foi embora para Pasárgada. Lá ele era amigo do rei. Lá ele escolhia a cama que queria.
Vou fazer igual. Quero ir-me embora para Pasárgada. Quero também ser amiga do rei. Mas onde fica Pasárgada? A quantas milhas de distância? Que veículo tomar? Uma barca? Um trem? Um ônibus? Um avião? Em que direção? Norte, sul, leste, oeste?
Eu podia perguntar ao Quintana. Se ele ainda estivesse vivo. Grande Mário! Soube encontrar seu caminho. Caminho esse que não encontro agora. É. Estou impotente. Não sei onde fica Pasárgada, não sei chegar lá. Não sei o que fazer.
Como contatar o rei "amigo"? Como chegar a ele e pedir uma passagem só de ida? Como pedir uma caminha confortável?
Como? Como? Como?
Ah, quero ir-me embora para Pasárgada!

©2007 '' Por Elke di Barros