quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Salomão

Cinquenta e três anos. Essa é a idade de Salomão, um pintor de parede. casado e com um filho adolescente, Salomão é um semi-analfabeto. Cursou até a primeira série primária na Paraíba, sua terra natal. Se mudou para o subúrbio do Rio de Janeiro com doze anos, onde continuou a ajudar o pai na tarefa rotineira de pintar paredes.
A vida inteira Salomão fez a mesma coisa. Mudava as casas, as cores, mas o serviço era sempre o mesmo. Porém, ele não se importa. Gosta do que faz. Acha gratificante pegar um cômodo feio e transformá-lo em algo novo, e muitas vezes, até em algo com estilo. É bom também ver o sorriso do cliente, com a casa ou local de trabalho renovados.
O dinheiro é pouco, mas dá para pagar todas as continhas, Nada lhe sobra, mas também não falta. Problemas com clientes? Acontecem. Mas isso é café pequeno. Problema, para Salomão, quem os tem é quem sente fome e não tem um teto a abrigar. Assim, o pintor é privilegiado. Tem casa, comida e roupas novas quando precisa.
Sente saudade da Paraíba, mas não muito. Faz tempo que saiu de lá e nunca mais voltou. E as pessoas que lhe eram preciosas - os pais, os irmãos e a avó - foram todas para o Rio de Janeiro com ele. O nordeste ficava agora num passado distante. Bonito, memorável, porque foi lá que passou a infância e os anos de brincadeiras inocentes, mas distante.
Hoje acordou cedo, como todos os dias. Tomou café da manhã reforçado. Café com leite, pão-tatu, ovo mexido, torrada com geleia. Pegou uma combi e foi trabalhar. Era o último dia no apartamento do Leme.
Ao entardecer, concluiu o serviço com fone de Mp3 ainda pendurado nos ouvidos. Sorriu. Mais uma missão cumprida. Mais um dia vivido.

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©2007 '' Por Elke di Barros