Maria Madalena. Esse é meu nome. Alguns me chamam de Madá. Apenas Madá. Prefiro assim, aliás. É o jeito de não correr o risco de me reportarem à Bíblia e não ouvir piadinhas sem graça.
Sou hippie. Ou queria ser. Não sei se é possível ser hippie hoje em dia. Não existem mais as aldeias dos anos 60 e 70. O mundo ficou liberal e o jovem, conservador. Contraditória essa afirmação, mas verdadeira. Posso apenas dizer que minha indumentaria é hippie, que acendo incenso e acredito nas fases da lua. Tomo suco de clorofila pela manhã, sou vegan, uso brincos compridos e minha casa é cheia de samambaias e chifres-de-veado. E procuro viver. Viver, de verdade, no sentido amplo da palavra.
Existir é muito simples. Nasceu, tem um coração batendo, existe. Existir, todos o sabem. Mas e viver, quem o sabe? A vida é a consciência do Carpe Diem. Saber aproveitar cada momento, sentir-se você mesmo, sentir o sangue pulsar nas veias de emoção, apreciar as pequenas coisas, ter tempo para você mesmo. Eu sei fazer isso. O que não quer dizer que consiga sempre.
Esse ano ainda não vivi. Estamos em agosto e até agora o ano passou por mim, simplesmente. Não sei quando foi maio. Nada marcou. Não toquei meu violão, não pintei um quadrinho, não fiz um desenho, quase não vi filmes interessantes com uma tigela de pipocas amanteigadas nas mãos. Não apreciei o sol, tampouco a lua. Não ouvi o barulho do mar, mesmo morando na costa. Não vi crianças brincando no parquinho, correndo esbaforidas. Não cresci com minhas plantinhas.
Perdi esses meses todos. Perdi existindo, apenas. Dormia, acordava, trabalhava, dormia. Tudo rotineiro e entendiante.
Está na hora de mudar tudo. Voltar a ser a Madá. Madá, a artista. Aquela que vive de arte e da arte. Voltar a pintar para magnatas exporem em suas paredes luxuosas no Alto Leblon. Voltar a tocar violão nos botequins de Copacabana. Voltar a escrever para alguma editora. Sim, não sou artista de uma arte só. Voltarei a dar aulas de yoga. Voltarei a ficar zen.
Agora sim, sou a Madá de novo.
Depoimento de uma personagem: Maria Madalena, agosto 2010.
Quase a mesma a praça
Há um ano
2 comentários:
Bem inspirador... esse ano ainda não vivi também.
viver um hobby contemporaneo?
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