Duas xícaras, dois pires, duas colheres e um prato, por favor.
Murilo não come nada pela manhã. Toma apenas um café preto e forte. Eu sei que isso é errado. Mas de nada adianta falar. Murilo não come nada pela manhã e não se fala mais nisso.
Agora, meu filho, pode me dar licença que Murilo vem chegando.
A garrafa térmica já estava sobre a mesa e as frutas também.
Vi Murilo sorrir com satisfação. Imaginei-o projetando a cena do café fumegante a cair na xícara indiana.
- Não é pelo café, querida,
Ãhn? - Disse para mim mesma, fiquei quieta diante dele.
- Que cara é essa? Não acredita no que falei? Disse que não sorri pelo café.
- Eu apenas não entendi o que isso significa.
- Significa que não não sorri pelo café. Simples.
Continuei sem entender bulhufas, mas não disse mais nada. Tem horas que o silêncio e a interrogação são mais amigos.
Comi uma fatia de melão, tomei meu café. Nada de conversa. Murilo olhava para mim e sorria. Não dizia uma só palavra.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
(Fora do) Cotidiano
Escrito por Juliana Amado às 21:58 5 comentários
terça-feira, 12 de abril de 2011
Como uma Sereia
Analu não tinha muita opção. Ou enfrentava, ou recuava. Mas às vezes ter mais de uma opção é um problema. Obriga a fazer uma escolha. E nem sempre sabemos o melhor caminho a seguir. É o caso de Analu agora. Ela não sabe o que fazer. Não sabe o que escolher para si. Tem medo dos espinhos das plantas que pode encontrar na estrada. Mas no fundo, lá no fundo, ela sabe o que quer.
Chegou em casa, passou a tranca na fechadura da porta da sala. Pensa nas duas opções. Quase de descabela. Analu é uma pessoa estressada. Ainda bem que tem cabelo curto. Senão, arrancado as madeixas já teria. Ainda bem também que tem uma banheira. Foi para lá que seguiu. Pegou alguns sais para banho, que não sei precisar quais eram, no armário embaixo da pia.
Fez um mar de espumas e mergulhou lá dentro, prendendo o fôlego. Não sentia o aroma, mas podia sentir a maciez dos sais na pele. É como se toda a toxina acumulada no seu corpo pelo estresse se esvaísse. Sentia-se mais leve a cada segundo que passava como uma sereia.
Ergueu-se de supetão. Como uma sereia? Não! Sim! Não! Sim!
E agora, José? A fada lhe dera uma hora para pensar. Analu sabia o que queria. Mas ela tinha medo da sua escolha.
A água faz parte dela. Da sua essência e personalidade. Mas a arte também. Como viver sem arte? Ela é a única sereia que sobrou. No mar, não tem a quem mostrar sua arte. Foi por isso que ganhou pernas, saiu de lá e foi expor numa galeria. Para fazer um teste. E agora tem que responder em uma hora. Volta para o mar ou vira humana definitivamente, produzindo arte e expondo?
Façam suas apostas.
Escrito por Juliana Amado às 23:20 2 comentários
sábado, 9 de abril de 2011
Memória
Deixou de ser presente
virou pretérito.
Deixou de ser real
virou imagem.
Deixou de ser gente
virou memória.
Memória
é a imagem
do pretérito.
O que aconteceu ontem
é pretérito.
A lembrança do pretérito
é uma imagem.
A imagem do pretérito
é uma memória.
Escrito por Juliana Amado às 23:20 1 comentários
sexta-feira, 1 de abril de 2011
É só um momentinho
Sabe quando você vê que tudo é um absurdo e não pode fazer nada?
Sabe quando você vê que certas coisinhas estão se complicando e não pode fazer nada?
Sabe quando você se dá conta que só vai poder agir daqui a algum tempo?
Sabe quando certas coisas começas a encher o saco?
Ah. Um momento de desânimo.
Um momentinho só.
Amanhã é um novo dia.
Um novo dia.
Uma nova data.
Tudo passa.
Os momentos, as coisas.
A vida.
Tudo, tudo passa.
O tempo, a vida.
A tristeza, o desânimo.
O sorriso pode sumir.
Por um momentinho, mas é a única coisa que é eterna.
Um sorriso não se apaga.
Tudo é um momento
só um momentinho.
Escrito por Juliana Amado às 00:26 2 comentários