terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nunca de frente

Enquanto a vida brinca, eu a vejo brincar. São poucas as vezes que entro no joguinho. É tão difícil jogar, brincar, sem se machucar. Sem se deixar afetar. Poucos são aqueles que conseguem fugir de um tapa ou um empurrão num jogo. E qualquer dessas coisas dói. Por isso, assisto de camarote.
Assisto as diversões. As canseiras. Os altos e baixos. Ânimo e desânimo. Medo e valentia. Luta e clamor. Eles têm um ideal. O ideal deles me atinge.
Eu não devia ser covarde. Não devia. Mas é tão difícil escolher o caminho mais difícil. Tão difícil olhar olho no olho. No olho da vida. Lá dentro das pupilas. Estremeço-me. Penso nas possíveis consequencias. Olho para o meio. O fim me é inalcançável. O resultado pode ser bom. Eles acreditam nisso. Mas eu não entro na briga.
- Joana. - Alguém me chamou.
- Oi?
- Venha.
- Praonde?
- Para o campo. Vamos jogar queimado.
- Não, obrigada.
- Tem medo, é?
- Não.
- Não?! Tem certeza? Se tem medo é melhor assumir. Ou tem medo de ter medo?
- N...n...
- Ah, Joana. Quer ficar aí, fique.
E virou as costas.
Mas eu a ouvi murmurar para si:
- Eu tenho vergonha alheia.

2 comentários:

Samara disse...

Acho que conheço esse medo. Belo texto, Ju.

Bruno Costa disse...

As vezes desistir e não fazer é um grande gesto de coragem.

©2007 '' Por Elke di Barros