quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Preste Atenção

Olha!
Olha!
Tem alguém
lá na frente
falando!
Há quanto tempo?
Só sei que não posso mais
contar os minutos
nos meus dedos.
Como fala!
Coisas interessantes,
mas que eu já sei.
Olha!
A pessoa está falando!
Preste atenção
assim mesmo.
Finja.
Um super interesse.
É importante.
Olha!
Olha!
Tem alguém
lá na frente
falando!
Discursando.
Olha!
Preste atenção.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ovo Cozido

Quando você voltar, acendo o fogão. Coloco uma panela cheia d´água e dois ovos. Mas agora não farei isso. Se você demorar, o ovo esfria, daí ouvirei reclamações. E não estou a fim de ouvi-las.
Farei qualquer coisa agora. Qualquer coisa menos colocar o ovo para cozinhar. Talvez termine de ler aquele livro. Talvez borde uma toalha para Pedro. Ver um seriado na TV fechada também é uma opção.
Não sei porque estou aqui falando as opções. Não faz diferença. Você vai lá pra fora fazer sabe-se-lá o quê, sequer verá o que estou fazendo. A única coisa que você deve saber é que não vou cozinhar budega de ovo algum agora.
Agora vá! Vaza! Quando você voltar, acendo o fogão.

domingo, 28 de novembro de 2010

Caminho do Corredor

O corredor estava escuro e úmido. Era lamentável que não houvesse outro caminho. Tentei adaptar meus olhos à escuridão. Passei a enxergar alguma coisa e conseguia ver onde havia poças d´água. Menos mal.
Embora não fosse tão forte a ponto de paralisar, o medo estava ali. Aqui. Dentro de mim. E assim eu caminhava, receosa.
Sabia o que encontraria no final. O problema era o caminho. O que encontraria no decorrer daquele corredor. Não sabia que tipos de fantasmas ali habitavam. Nem o que tinha dentro daquelas poças. Nem o que poderia sair de dentro das portas laterais. Não sabia quanto tempo levaria para chegar ao final. Segundos? Minutos?
Haveria ventos sussurrantes em cada curva? Algum esqueleto ambulante? Ou Peter Pan apareceria onde o vento faz a curva e me levaria para a Terra do Nunca? Talvez não fosse uma má opção. Terra do Nunca. Às vezes eu gostaria de ser criança outra vez e sê-lo para todo o sempre. Mas não. Peter Pan não aparecerá. As flores estão no destino.
O caminho é feito de pedras e vidros quebrados e pontiagudos.
Parei com meus devaneios. Olhei em frente. E dei o primeiro passo.

domingo, 7 de novembro de 2010

Meu mundo de hoje

Quando eu era criança
brincava de Barbie,
andava a cavalo,
dava cambalhotas na piscina,
dava colo a cachorrinhos,
subia em árvores.
E não visitava museus.
Quase não me levavam ao cinema.
Não tinha desenhos em VHS.
Nunca tinha lido Ruth Rocha.
A cultura estava do outro lado do mundo,
onde eu não enxergava,
não estava no meu cotidiano.
E assim,
o tempo foi passando,
eu, crescendo,
desnudando-me,
descobrindo-me.
Enxerguei o que não via antes,
apresentei-me a quem não havia sido apresentada.
Conheci a cultura,
conheci a literatura,
conheci a arte,
conheci os museus.
Formei então
meu círculo de amigos:
os cults,
os intelectuais,
os literatos,
os artistas,
os museólogos.
Reconstruí meu habitat
num outro mundo,
que me permita ser
eu,
uma eterna aprendiz.
Um mundo
de criatividade,
cuidado,
loucos,
obras,
criação!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pasárgada

Sabe de uma coisa? Quintana estava coberto de razão. Quando foi embora para Pasárgada. Lá ele era amigo do rei. Lá ele escolhia a cama que queria.
Vou fazer igual. Quero ir-me embora para Pasárgada. Quero também ser amiga do rei. Mas onde fica Pasárgada? A quantas milhas de distância? Que veículo tomar? Uma barca? Um trem? Um ônibus? Um avião? Em que direção? Norte, sul, leste, oeste?
Eu podia perguntar ao Quintana. Se ele ainda estivesse vivo. Grande Mário! Soube encontrar seu caminho. Caminho esse que não encontro agora. É. Estou impotente. Não sei onde fica Pasárgada, não sei chegar lá. Não sei o que fazer.
Como contatar o rei "amigo"? Como chegar a ele e pedir uma passagem só de ida? Como pedir uma caminha confortável?
Como? Como? Como?
Ah, quero ir-me embora para Pasárgada!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A consciência do não existir

Distante. A não sei quantas mil léguas. No mundo da lua. Num lugar onde ninguém me encontra. Onde ninguém lembra que eu existo.
Meu nome não sai publicado em lugar algum. Para quê? Eu não existo. Talvez tenha morrido. Talvez nunca tenha nascido. Talvez meu nome seja apenas fruto de uma imaginação.
A prova, as notas, os exames médicos, a perícia. Tudo isso não passou de um sonho. Um sonho irreal. E eu, tola, lá do mundo da lua, acreditando que era verdade. Tolice! Como é que fui acreditar num sonho que nada mais é que um quadro de Salvador Dalí ou uma fotomontagem de Francisco Aszmann? Burra que sou!
Moro muito longe. Num lugar que para você chegar tem que atravessar o portão da inexistência.
Aqui, no meio do nada, tento fazer alguma coisa. Estudar. Não me concentro. Minha mente é como um caldeirão em ebulição. Ferve. Com bolhas grossas. Que se misturam ao salgado das minhas lágrimas. Estudar não dá. Vou pintar. Cores. Apenas cores. Figuras não definidas. Não-figuras. Formas apenas. Formas indefiníveis. Em cores sem regra. Com lápis aquarelável. Adianta um pouco. Os nervos dão uma esfriada. Leio. Um romance pseudo-autobiográfico fictício. Confuso? Mas é isso mesmo. Segundo o autor, "tudo isso aconteceu mais ou menos". Um pouco de ficção, um pouco de fatos reais. Desligo-me da minha não existência. Distraio. Escrevo. Uma crônica, uma poesia e um romance. Lembro de novo do meu estado. Choro. Escondido. No banheiro. Quero existir!
Vou procurar meu nome nas certidões de nascimento nos cartórios.
Não falo, não desabafo com quase ninguém. Estou no mundo da lua. Lugar intangível. Não sou encontrada nem encontro alguém. Não converso. Salvo com alguém que também não exista e não tenha carteira de identidade expedida pelo DETRAN ou IFP. E assim (des)curto sozinha a minha não existência.
Quero voltar para o mundo real. Se é que algum dia já fiz parte dele. Quero ter uma certidão de nascimento, uma identidade. Quero ter feito aquela prova, aqueles exames médicos, aquela perícia. Quero meu nome publicado na Imprensa Oficial da União. Só quero ser lembrada! Só quero existir!

domingo, 3 de outubro de 2010

Frango e Submarino


Certa vez conheci um menino,
num ano não muito longíguo,
tão logo tinha passado a adolescência.
Um menino
que gostava de frango-
o bicho, não a comida -
e que tinha um apelido atípico.
Um excêntrico engraçado,
com quem vim a me acostumar
ao longo do tempo,
num ambiente de loucos,
nem sempre divertido,
Aos poucos fiz descobertas,
vi quem era o menino
que gostava de frangos -
de pelúcia, diga-se de passagem.
Ficamos amigos,
além do ambiente de malucos-nem-sempre-beleza.
Tenho nele
alguém em quem posso confiar,
Como confiar
num menino que gosta de frangos?
Amizade
vai além de idiossincrassia.
Ele era um Porto seguro
que se transformou
num submarino,
que agora afunda
para tomar seu rumo.
Rumo ao sucesso,
à felicidade,
à realização.
Mas as marcas d´água
hão de ficar.
O submarino
está indo embora,
Embora entre aspas.
Estará longe,
no fundo do mar,
mas não há nada
que me impeça de alcançá-lo,
tenho pés-de-pato
embaixo da minha cama.
E a Deus agradeço
o rumo que todos nós
estamos tomando.
Um dia,
talvez um pouco mais longíguo,
olharei a estrada do mar.
verei a glória dos peixinhos coloridos,
e dar-me-ei conta,
do quanto tudo valeu a pena!


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Ry, amigo querido! Vá... e seja muito feliz "nas Minas do Rei".

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Des-Foco-Nada

Nada fazia sentido. Nada estava ali. A imagem desfocada. Velocidade em foco. As coisas andavam rápido demais. E o mundo girava sem que ele se encontrasse. Ele não se encontrava. Estava perdido. Num monte de coisas. Num monte de nada. Certas coisas eram nada. Nada é nada. Simplesmente nada. Nada. Era ali que ele estava, mesmo sem saber. No meio do nada.
Imagem. Borrada. Era o que ele via. Borrões. Abstração. Lembrou dos artistas malucos. Sim, artistas que pintavam borrões eram malucos. E ainda chamavam aquilo de arte. Era a concepção que ele tinha da arte. Medieval. Arte bonita é arte figurativa. Assim pensava a cabeça dele que estava num meio abstrato. Kandinsky. Era o que a imagem à sua frente lembrava. Ou seria Miró? Ou Beatriz Milhazes? Não sabia.
As coisas iam correndo. Voando. E nada se via. Como um trem em movimento. Ou um carro participando de um pega.
Nada, nada. Tudo. Nada. O sentido era como um tubo de aspirador. Um monte de lixo. Quase tudo borrado e indefinível.
Ele foi embora. A pé. Pisando no emaranhado. Para onde ele foi? Não há como saber. Talvez tenha virado um borrão. Um desfoque.

domingo, 26 de setembro de 2010

Primavera no Cinema


Dias, meses e anos se passaram, sem que eu me desse conta que de as primaveras iam e vinham. Num piscar de olhos. Naquele dia, dez anos atrás, eu era uma menina de 14 anos. A enfrentar uma perda. Talvez a primeira grande perda da vida. Entendi a dimensão daquilo, mas a maior naturalidade já vista diante de uma morte estava ali. Talvez pelo um ano de certeza de que uma vida se esvaía. Talvez pela crença de uma vida além-túmulo. Pode ter sido estranho naquele momento. Mas a gente vai acostumando. Aos poucos. E nem percebe que se acostumou.

Na última primavera da década, do século e milênio passados, um ser fechou os olhos pela última vez. Não antes de dirigir as últimas palavras de amor a quem amava. Não antes deixar belas lembranças de uma infância feliz na mente de quem cá ficou. Não antes ter plantado a semente da honestidade. Não antes ter ensinado a filha a andar de bicicleta. Não antes de ter dado aulinhas de inglês em casa antes das provas.

Estamos diante de mais uma última primavera de uma década. E me dou conta que de o tempo passou. Dez anos. Redondos. Estranho. Não parece que passou tanto tempo assim. Algumas lembranças são atemporais e o tempo cronológico não acompanha. Me dei conta de que sou uma mulher. E que o ser que respirou pela última vez naquela primavera não conhece. Tudo mudou. O roteiro do filme agora é outro. Parece que mudou de autor. Os personagens que sobraram sofreram mutações no decorrer da história. Talvez o "ser-personagem" não se encaixasse mais como uma obra viva. É agora um personagem atuante nos sonhos, nas lembranças, nas saudades. Aparece em feed-back, em cenas bonitas.

A mensagem do filme é: No meio das flores "a saudade é a presença do ausente".

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Salomão

Cinquenta e três anos. Essa é a idade de Salomão, um pintor de parede. casado e com um filho adolescente, Salomão é um semi-analfabeto. Cursou até a primeira série primária na Paraíba, sua terra natal. Se mudou para o subúrbio do Rio de Janeiro com doze anos, onde continuou a ajudar o pai na tarefa rotineira de pintar paredes.
A vida inteira Salomão fez a mesma coisa. Mudava as casas, as cores, mas o serviço era sempre o mesmo. Porém, ele não se importa. Gosta do que faz. Acha gratificante pegar um cômodo feio e transformá-lo em algo novo, e muitas vezes, até em algo com estilo. É bom também ver o sorriso do cliente, com a casa ou local de trabalho renovados.
O dinheiro é pouco, mas dá para pagar todas as continhas, Nada lhe sobra, mas também não falta. Problemas com clientes? Acontecem. Mas isso é café pequeno. Problema, para Salomão, quem os tem é quem sente fome e não tem um teto a abrigar. Assim, o pintor é privilegiado. Tem casa, comida e roupas novas quando precisa.
Sente saudade da Paraíba, mas não muito. Faz tempo que saiu de lá e nunca mais voltou. E as pessoas que lhe eram preciosas - os pais, os irmãos e a avó - foram todas para o Rio de Janeiro com ele. O nordeste ficava agora num passado distante. Bonito, memorável, porque foi lá que passou a infância e os anos de brincadeiras inocentes, mas distante.
Hoje acordou cedo, como todos os dias. Tomou café da manhã reforçado. Café com leite, pão-tatu, ovo mexido, torrada com geleia. Pegou uma combi e foi trabalhar. Era o último dia no apartamento do Leme.
Ao entardecer, concluiu o serviço com fone de Mp3 ainda pendurado nos ouvidos. Sorriu. Mais uma missão cumprida. Mais um dia vivido.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Madá, a artista

Maria Madalena. Esse é meu nome. Alguns me chamam de Madá. Apenas Madá. Prefiro assim, aliás. É o jeito de não correr o risco de me reportarem à Bíblia e não ouvir piadinhas sem graça.
Sou hippie. Ou queria ser. Não sei se é possível ser hippie hoje em dia. Não existem mais as aldeias dos anos 60 e 70. O mundo ficou liberal e o jovem, conservador. Contraditória essa afirmação, mas verdadeira. Posso apenas dizer que minha indumentaria é hippie, que acendo incenso e acredito nas fases da lua. Tomo suco de clorofila pela manhã, sou vegan, uso brincos compridos e minha casa é cheia de samambaias e chifres-de-veado. E procuro viver. Viver, de verdade, no sentido amplo da palavra.
Existir é muito simples. Nasceu, tem um coração batendo, existe. Existir, todos o sabem. Mas e viver, quem o sabe? A vida é a consciência do Carpe Diem. Saber aproveitar cada momento, sentir-se você mesmo, sentir o sangue pulsar nas veias de emoção, apreciar as pequenas coisas, ter tempo para você mesmo. Eu sei fazer isso. O que não quer dizer que consiga sempre.
Esse ano ainda não vivi. Estamos em agosto e até agora o ano passou por mim, simplesmente. Não sei quando foi maio. Nada marcou. Não toquei meu violão, não pintei um quadrinho, não fiz um desenho, quase não vi filmes interessantes com uma tigela de pipocas amanteigadas nas mãos. Não apreciei o sol, tampouco a lua. Não ouvi o barulho do mar, mesmo morando na costa. Não vi crianças brincando no parquinho, correndo esbaforidas. Não cresci com minhas plantinhas.
Perdi esses meses todos. Perdi existindo, apenas. Dormia, acordava, trabalhava, dormia. Tudo rotineiro e entendiante.
Está na hora de mudar tudo. Voltar a ser a Madá. Madá, a artista. Aquela que vive de arte e da arte. Voltar a pintar para magnatas exporem em suas paredes luxuosas no Alto Leblon. Voltar a tocar violão nos botequins de Copacabana. Voltar a escrever para alguma editora. Sim, não sou artista de uma arte só. Voltarei a dar aulas de yoga. Voltarei a ficar zen.
Agora sim, sou a Madá de novo.

Depoimento de uma personagem: Maria Madalena, agosto 2010.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Resgate Tardio

O sorriso habitual não estava no meu rosto quando me olhei no espelho. Meus lábios pendiam para baixo e meus olhos estavam vermelhos.
Mandei meu amigo Carpe Diem pastar. Não tinha como encará-lo agora. O mar não era mais azul. Era preto.
A dor chegou para se hospedar dentro de mim. Escovei os dentes logo após uma refeição. Olhei pela janela do banheiro. Com o hálito fresco do creme dental, vendo os carros passarem pela minha rua, chorei.
Vivo numa ilha deserta. Por mais que tenha peixes, pássaros lindos, eles não falam comigo. Me ignoram. Não me veem. É como se eu não existisse. Falar com a árvore? Ela também é adepta do silêncio. Sinto-me tão só, atrás de uma grade imaginário, sem poder fugir para um mundo onde exista gente de verdade. Mas não tenho como fazê-lo. O mar é cheio de armadilhas. Só posso esperar o navio de resgate. E o navio tarda. Como tarda!
Lavei o rosto, retirei a maquiagem. Penteei meus cabelos, coloquei um pijaminha, deitei na cama. Não consegui dormir. Com lágrimas nos olhos, ainda aguardava o navio.
Talvez seja melhor acender uma fogueira, fazer sinal de fumaça. Talvez alguém me veja. Talvez alguém me ache.

domingo, 29 de agosto de 2010

Hora de Almoço

Meio dia e treze. Era o que o relógio digital no pulso dela marcava. devia estar certo; ela era daquelas que ligava para o 130 e verificava até os segundos.
Neurose? Talvez. Idiossincrasia? Com certeza. Mas isso pouco importa. Não faz diferença num simples relato cotidiano.
Clara estava no seu horário de almoço. Tinha acabado de fazer uma refeição rápida. Algumas folhas, filé de salmão ao molho de alcaparras, suco de acerola. Com o estômago satisfeito, estava agora dentro de uma igreja. Qual, ela não saberia dizer. Não era importante. O que fazia diferença era que Clara conversava com Deus. Em silêncio, usando o mental, mas conversava. Punha em prática a sua fé. E a sua pequenez, ao se dirigir a algum ser superior sem poder vê-lo, tampouco saber como Ele é.
Mas Clara não ligava para isso. Com a roupa elegante do trabalho e sapatos de bico, desnudava-se. Espiritualmente falando, claro. Conversava, implorava, pedia orientação, agradecia. Transparente e translúcida, jogava-se nos braços de Deus.
O curioso é que ninguém via a beleza da cena. Quem imaginaria que Clara, com sua cara e indumentária de executiva tinha fé?
Não, ela não é católica. Não tem uma religião definida. Acha que religiões são rótulos. Ela apenas gosta de conversar com Deus. Em qualquer lugar silencioso e propício à oração.
Sente-se mais leve agora. Com a alma lavada e despida de impurezas. Olha para o relógio. 12:33. Hora de sair. Correndo. De volta ao trabalho.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Apocalipse de Freud

O mar invadiu a terra,
meteoros caíram aos montes,
ventos de sei lá quantos quilômetros passaram voando.
as montanhas se ruíram,
houve tempestade de areia no deserto,
o marrom do globo terrestre desapareceu,
a peste negra voltou,
os monumentos turísticos desabaram.
É o fim.
É o Apocalipse.
Não aquele que está na Bíblia.
Um fim do mundo
que talvez Freud entendesse.
Um turbilhão invadiu meus sentimentos.
Eu começo a ruir,
pouco a pouco.
Está escuro,
o sol foi embora.
Não vejo para onde rolam minhas pedras.
Vou andando devagar,
devagarinho.
E descubro que lá,
lá longe tem uma nesga de luz.
O sol não foi embora,
o Apocalipse tem um fim.
É o fio da esperança.

sábado, 10 de julho de 2010

Arco- Íris

Abri a janela. Deixei a luz entrar depois de uma longa noite de chuva. O sol fraco da manhã iluminou meu rosto, banhando-me. Abri os olhos.
Lá estava o arco-íris. Esperando-me. Chamando-me. Sorrindo para mim. Coloquei meus dentes à mostra, feliz. Os passarinhos cantavam. Corri, tirei a camisola, vesti um vestidinho leve.
Pulei a janela. O arco- íris me estendia os braços. Agarrei-o. Montada em cima dele, corri, naveguei, brinquei de tobogã e de balanço no mundo das cores.
Virei criança outra vez. A inocência permeava meu espírito. A felicidade irradiava de minh´alma, assim como a luz do sol. Me sentia flutuar, leve, levinha, leve como uma pluma.
O céu estava azul bebê, sem nuvens. O mar no mundo das cores era rosa. Tinha passarinhos azuis, verdes e laranjas. As borboletas eram lilás. As coisas tinham as cores que eu queria, que eu imaginava. Pintei as rosas de vermelho e as margaridas de amarelo. As árvores tinham troncos marrons e folhas que alternavam o esverdeado e o arroxeado.
O mundo no arco íris era colorido, colorido como nos desenhos animados para menininhas. Colorido do jeito que eu queria.
E o odor? Tinha cheiro de lavanda. Suave. Como meu eu interior se encontrava naquele momento.
Um lugar de liberdade! Onde eu podia ser eu mesma. Sem críticas alheias, sem preocupação com as convenções sociais. Lá eu podia gritar, correr, pular, cantarolar. Cheirar as flores, conversar com as borboletas, subir nas árvores. Dar vazão à minha alegria, à minha felicidade. Deixar transbordar tudo que bom que eu sentia. Deitar, rolar na grama. Nadar, fazer piruetas no mar.
Pintar o mundo, colorir a mim mesma.
Colorir, colorir. Eu estava no arco-íris.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Pseudo-Código

A - Estou cansado.
B - É?
A - É!
B - Cansado de que?
A - Disso.
B - Disso o que?
A - Disso. Só disso.
B - Sou obrigado a adivinhar o que é disso?
A - Ah, achei que soubesse.
B - Tenho cara de adivinho?
A - Não. Você tem a cara que a mistura do espermatozóide com o óvulo te deu.
B - Então?!
A - Achei que você era meu amigo.
B - E não sou?
A - Amigos se entendem.
B - E nós não nos entendemos?
A - Pelo jeito, não.
B - De onde você tirou isso?
A - Amigos não precisam de palavras.
B - Ah, não?
A - Não.
B - Precisam de que então?
A - Sintonia.
B - Sintonia é telepatia então?
A - Não.
B - É o que?
A - Sintonia. Apenas sintonia.
B - Desisto.
A - Desiste?
B - Desisto!
A - De mim?
B - Não.
A - De que?
B - De entender seu papo.
A - Ah, você não me entende.
B - Não, não entendo.
A - Achei que você fosse bom em interpretação de códigos.
B - Isso não é código.
A - Como não?
B - Não sendo.
A - Claro que é.
B - Pode ser uma tentativa. Mas não é propriamente um código.
A - Ah, ãhn.
B - Hum.

domingo, 13 de junho de 2010

Há 25 anos

Quando Otávio era criança, brincava de soltar pipa no telhado da avó. De bonzinho, não tinha nada. Passava cerol na pipa dos vizinhos. Era esperto. Sabia que deixava os meninos da vizinhança roxos de raiva. Mas ninguém se atreveria a mexer com o neto de d. Albertina.
A velha senhora era a benfeitora do bairro. Aquela que distribuía balinhas para as crianças e dava um pouco do seu arroz com feijão para quem tivesse fome. Como dar o troco no neto dela? É. O pequeno Otávio se aproveitava disso. Esperto que era. Ou burro?
Esqueceu-se ou não sabia que as pessoas têm limite. E de um dia para outro, num piscar de olhos, deixou de ser o queridinho da vovó.
Um fofoqueiro acabou com a festa.
- Otávio - a voz era dura - venha cá. Já!
O menino gelou. Sua avó nunca lhe dirigira assim. Teve o típico medo infantil. Correu para a cozinha.
- Vovó.
- Senta. - Ele obedeceu. - Muito bem. Pois pode começar.
- Começar o quê?
- A explicar.
- Explicar o que?
- O que você faz quando vem na minha casa?
- Visito a senhora, como seu bolo de cenoura, tomo banho, ouço suas historinhas, jogo dominó com Papolete, vejo TV.
- Para começar, esqueça Papolete. Ele não existe.
- Existe vovó. Eu vejo.
- Não se pode ver amigos imaginários, Otávio. Acho que você se esqueceu de uma coisa.
- O que?
- Você não solta pipa quando vem aqui?
- Ah, sim. Solto.
- O que mais?
-Nada.
- Tem certeza?
Otávio fez sim com a cabeça, olhos visivelmente assustados.
- E o cerol na pipa dos vizinhos?

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Vinte e cinco anos se passaram. Otávio não consegue se lembrar com precisão os detalhes que se seguiram à pergunta fatal da avó. Lembrava-se apenas do susto que o dominou.
Na época foi aterrorizante, Mas hoje era uma lembrança engraçada. Tinha vontade de rir de si mesmo, pelo quão idiota fora. E ria. Hoje era noite de autógrafo do seu livro. Eu e as pipas do vizinho.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Presente

Andava pela rua e não via ninguém. Apenas o negrume da escuridão. A coruja não lhe fazia companhia. Nem os morcegos. Nem as estrelas, com quem costuma conversar. Ninguém. A lua? Ela também não estava lá.
Ele não sabia para onde ia. Nem onde estava. Não tinha como se orientar. Não havia placas. Mesmo que houvesse, como lê-las? Não tinha uma lanterna em mãos. Não via os possíveis caminhos a tomar. Andava, andava, sem se dar conta de que estava perdido.
Estava sozinho, completamente só. Não havia cor ali, a acompanhá-lo. O preto dominava. Igual a gene dominante de letra maiúscula.
Pisava no chão duro, sem folhas a farfalhar. O único som eram seus passos e sua respiração.
Começou a correr. Voar. Tinha pressa de chegar. Chegar aonde? Em algum lugar, no futuro.
Mas de que adiantará o futuro se esqueceu o livrinho de colorir e o lápis de cor no presente?

domingo, 16 de maio de 2010

Desmembrando a Pintura

Textura,
volumes,
cores,
pinceladas.

Ideias,
perspectivas,
temas,
críticas.

Suporte,
telas,
tintas,
verniz.

Têmpera,
óleo,
aquarela,
guache.

Pontos,
linhas,
figuras,
formas.

Abstração,
figuração.

Academicismo,
vanguarda.
Acadêmico,
vanguardista.

Pintor,
artista.

Obra,
quadro.

Valor comercial,
valor expositivo.

Objeto de consumo,
acervo.

Arte,
arte.
A arte de pintar.

domingo, 9 de maio de 2010

Robson Crusoé

Robson mora no campo,
entre vaquinhas e patinhos,
trabalha alimentando os bichinhos
e gosta de ler,
nas horas vagas,
a história de Robinson Crusoé.
Ganhou o livro
de presente
da tia da escola.
Lê e alimenta,
alimenta e lê.
Faça o tempo que fizer,
sob sol ou chuva,
sobre o verde e o marrom,
lê e alimenta,
alimenta e lê.
Só, sozinho,
sem amigos,
sem companhia,
além da natureza
e dos bichinhos.
Só,
sozinho,
a solidão faz-se presente.
Que nem
Robinson Crusoé.
Um náufrago da vida,
Robson o é.
Um sobrevivente da solidão,
Robson o é.
Atemporal
alguns personagens o são.
Talvez Defoe não soubesse,
mas Robinson é atemporal.
E Robson também.
Solidão é naufrágio.
Solitário é náufrago.
Mar, mar.
Que mar?
Naufrágios em terra firme
existem.
Há náufragos
que vêem o verde,
ao invés do azul.
Robson é um deles.
Naufragou na zona rural,
entre vaquinhas e patinhos,
trabalhando com a pança dos bichinhos.
Não morreu afogado,
encontrou uma jangada,
encontrou a história
de Robinson Crusoé.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Um Sapato no Caminho

Encontrei um sapato no meio do caminho.
Drummond encontrou uma pedra. Eu, um sapato. Novo. Novinho em folha. Numa posição em que não parecia ter sido perdido. Aparentava ter sido colocado ali. Era um sapato diferente. Era de acrílico azul-turquesa. Daqueles que seria bem polêmico: horroroso para alguns, estupendo para outros. Minha curiosidade foi aguçada.
Abaixei-me. Ajoelhei-me. Era uma rua de bairro de periferia. Uma rua não asfaltada, de terra batida, sem calçada. Quase uma roça. Sujei minha saia longa estampada. Não tinha problema. A descoberta valia mais. A saia, depois sabão em pó resolveria.
Olhei para o sapato de perto. Parecia feito para criança brincar de Cinderela no Carnaval. Mas era grande para os pés infantis. Tamanho 38 ou 39, acho. Devo ter ficado uns vinte minutos ali, na mesma posição. Sorte minha a rua estar deserta. Do contrário, estaria agora numa camisa-de-força.
Depois de tanto hesitar, encostei primeiro o dedo indicador naquele objeto azulão-transparente. Depois, o médio. Depois, o anelar. Daí, meti a mão. Uma, depois outra. Peguei o sapato com as duas mãos. Vagarosamente. Inconscientemente, talvez eu estivesse com medo de quebrá-lo. Lindo e feio aquele sapato, ao mesmo tempo. Como quebrá-lo-ia?
Trouxe-o um pouco abaixo da linha do queixo. Mirei de mais perto. Não encontrei arranhão à primeira vista. Resolvi procurar. Não encontrei. Nenhuma partezinha arranhada. O sapato estava inteiro, apesar de estar sem Pé Direito, sua esposa.
Não encontrei arranhão, mas um papel colado na sola de Pé Esquerdo. Era como se ele estivesse me entregando um bilhete. Eu sentia isso. Era para mim, o recado. Li.
O medo tomou conta de mim. Meu corpo ficou gelado. Não sei se meu coração parou ou acelerou. Saí correndo, deixando o sapato cair.
Não olhei para trás para ver se tinha quebrado ou não.
E...
E...
E?
Não me atrevo a contar o resto da história.

domingo, 11 de abril de 2010

Fora de mim

Onde estou? Para onde fui? Onde estive? Que caminho tomei? Ou teria eu usado pó de pirlimpipim? Seria eu sonâmbula e fugi enquanto dormia?
Olho ao redor. Não reconheço nada. Nenhuma parte do meu pequenino corpo. Nenhum membro. Nenhum órgão vital.
Não me encontro. Não me vejo. Não estou perto de mim. Onde estarei? Onde estará meu corpo? Onde está o fio que nos une, que nos mantém em sintonia? Não o vejo.
Perdi o contato comigo mesma. Meu espírito (mente + coração) se desprendeu do meu corpo. Não morri. Estou fora de sintonia. Estou perdida. Não me encontro em lugar nenhum.
Fora de mim, sou um peixe fora d´água. Eu sou o meu aquário, os meus brônquios, o meu oxigênio. Eu dou vida a mim.
Que hei de fazer agora? Sem rumo, sem direção? Na esperança de um dia encontrar o caminho certo de volta a mim?
Parecendo um zumbi, parecendo um fantasminha, aí eu vou. Vou 'praonde' ?
Para algum lugar, algum lugar por aí. Não sei onde fica o 'aonde'. Talvez eu consiga um mapa. Um mapa que me oriente. Se for possível eu me orientar.
Oh! Não sei de nada! Não sei mais a quem pertenço, de onde faço parte.
Só sei que estou fora de mim!

domingo, 28 de março de 2010

Ronaldo e Adagilsa


Este é o Ronaldo. Um cara digno. Digno, mas não perfeito.
Tem coisas que ele detesta. Olhar para a parede é uma delas. Dá tédio. Mas cá entre nós, o que uma parede tem de interessante? A capacidade de fazê-lo se sentir um inútil.
Para quem não sabe, aí vai uma informação: a parede dialoga. Dialoga, fala, diz. Ronaldo sabia disso. E ouvia a voz da parede.
- Você é um inútil. Não faz budega alguma.
- Mandaram eu esperar. - retruca.
- Mas você é burro, hein! Não sabe que existem coisas que podem ser feitas enquanto se espera?Ou será que sou uma popozuda interessante de se olhar e não sei?
É sempre esse diálogo que Ronaldo ouve quando toma chá de cadeira ou de chão - porque às vezes espera de pé. Não é à toa que detesta esperar.
Sente-se um imbecil, um inútil, fica um tanto entediado e ainda tem que ouvir um sermão de uma parede!
Foi então que descobriu seu maior talento, e posteriormente, ofício. Resolveu passar a carregar um caderninho, um lápis e uma borracha de seringueira branca. Desenhou, desenhou, desenhou. Todas as vezes que precisou esperar.
Virou desenhista profissional. Largou o antigo emprego, um daqueles empregos convencionais. Mais tarde, ganhou destaque. Virou cartunista. daqueles com personagens próprios. E adivinha quem se tonou sua criação principal?
A Adagilsa, claro.
Mas quem é Adagilsa? Um tipo caricato?
Não, claro que não. É a parede!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Quem é o criador?

Criança: Mãe, quem é o dono do mundo?
Mãe: O mundo não tem dono.
C: Não?
M: Não se compra o mundo. Ele nunca esteve à venda.
C: Por quê não?
M: Porque o mundo não é mercadoria, filho. Não se compra, não se vende, não se dá.
C: Quem cuida do mundo então?
M: Do mundo, ninguém. Mas o mundo é dividido em países. E cada país tem um presidente ou um rei.
C: Então o rei cuida do mundo?
M: Não, filho. O rei ou o presidente cuida do seu país. Lula cuida do Brasil, Obama cuida dos Estados Unidos.
C: Entendi. E por que eles deixam acontecer coisas ruins?
M: Como assim?
C: Os terremotos, os tsunamis, as enchentes. Vi a moça da televisão falando que morreu muita gente. E que tem muita gente sem casa. É triste morar na rua. Por quê os presidentes deixam?
M: Eles não deixam. É a fúria da natureza. Eles não podem controlar.
C: Por quê não?
M: Eles não são os criadores.
C: Do quê?
M: Da natureza.
C: E quem é?
M: O criador da natureza?
C: É.
M: Deus.
C: Quem é Deus?
M: Papai do Céu.
C: Nunca vi Papai do Céu. Quem é?
M: É o criador da natureza, do mundo, da água, dos animais.
C: Foi ele quem criou você?
M: Sim. Você também. E todas as pessoas.
C: Como ele faz isso? Numa panela grande?
M: Não sei. Talvez imaginando. Talvez desenhando. Ou talvez, numa panela grande.
C: Legal.
Silêncio.
C: Mãe?
M: Oi?
C: E quem criou Deus?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Telegrama Farjuto


Recebi um telegrama noite passada. Não sei porque, mas tive medo de abri-lo. Talvez eu tenha imaginado coisas catastróficas. Também pudera... depois de uma tromba d´água, não era difícil. Sou do gênero que "adora" tempestade num copo d´água.
Era do Garcia. Melhor assim. Ou pior. Conhece faca de dois gumes? Dois lados. Um positivo, outro negativo. O telegrama do Garcia era assim. Não abri de imediato. Sentei-me na poltrona verde-musgo encardida que estava de frente para o aquecedor.
Garcia é o chefe da editora. Desenho para livros em quadrinho. E um telegrama do dito cujo poderia significar coisa boa ou ruim. Ele tem o estranho hábito de mandar tudo que é notícia ou ordem por telegrama. Não me pergunte porque. Eu não sei. O mundo está cheio de pessoas esquisitas e Garcia não foge à regra.
Não devo ser lá muito normal, afinal já dizia o poeta "de perto ninguém é normal". Ainda assim, tenho medo de estranhos. Não de estranhos no sentido de desconhecidos, mas de esquisitos.
Garcia uma vez foi flagrado andando na rua com uma melancia na cabeça. Não, não é delírio. É um fato. Tenho ou não tenho que ter medo de abrir um telegrama desse sujeito?
Apesar do frio curutibano, senti uma gota de suor descer pelas costas abaixo. Mais uma. E outra. Ao todo, três gotas ácidas.
Resolvi abrir a budega do telegrama. Era melhor acabar logo com aquilo. Esse lero-lero de abro- não abro.
Senti o vapor quente do aquecedor e destaquei as partes laterais. Desdobrei, vi as letrinhas do recado, mas não li no primeiro momento.
Que estaria escrito ali?
Pára com isso, leia essa coisa logo! - disse para mim mesmo.
Li, finalmente. Que perfeito idiota era o Garcia! Um telegrama para dizer que queria que eu desenhasse a Mafalda, de Quino. Até parece que foi plagiar o grande Quino!
Das duas, uma. Ou Garcia é muito mais que um porra louca ou está gozando da minha cara.
A resposta e a continuidade no emprego, só saberei amanhã.
E o amanhã não chega!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Gira

O mundo gira
colorido.
Eu não sei pr´aonde olhar.
Não fixo em ponto algum.
O mundo gira
colorido.
Os objetos giram
colorido
como em roletas de jogos de azar.
Pr´aonde olho?
Que cores as coisas têm?
Pr´aonde sigo?
Quais os caminhos que tem?
Qual deles é mais colorido?
Em que direção fica?
O mundo gira
gira, gira
gira colorido.

©2007 '' Por Elke di Barros